29/04/2013
1 – PHA: Deputado Nazareno, o presidente da Câmara, Henrique
Alves e o presidente do Senado, Renan Calheiros, devem se encontrar hoje
com o ministro Gilmar Mendes para – segundo o que diz a imprensa –
evitar uma crise institucional entre os dois Poderes. Que crise é essa ?
Deputado
Nazareno Fonteles: Bom, eu não estou vendo, do ponto de vista dos fatos
associados ao conteúdo da PEC 33, nada que possa justificar uma crise.
Uma
coisa é o que já existia antes desse período, das diversas intervenções
dos ministros do Supremo nos atos legislativos. A gente tem essa lista
histórica, de diversas intervenções deles – como já foi citado e é bom a
gente repetir:
Além das mais recentes: a lei dos royalties de petróleo e da emenda dos precatórios.
Decisões sobre fidelidade partidária; verticalização em eleições; aborto de anencéfalos; união homoafetiva.
E
uma – esta do Gilmar (PHA) – ainda coincidiu com o dia em que a PEC 33
foi aprovada na CCJ, em cima da lei ligada ao fundo partidário e ao
tempo de tevê dos partidos.
Essa disputa política é entre
oposição e situação, em que a oposição perde nas urnas e no plenário, e
usa o Supremo como braço auxiliar; isso sim, não deixa de ser uma crise.
Mas, ela existe independente do conteúdo da PEC, que não mexe
nisso. Eu fico até estranhando que queiram associar, botar essa PEC como
bode expiatório para desqualificar o seu conteúdo, que é totalmente
fundamentado na própria descrição dela.
Eu publiquei em um
livrinho há um ano, distribuí por todos os gabinetes dos parlamentares
da Câmara e do Senado, fiz artigo, divulguei-os nos meios eletrônicos e
fiz discursos associados a isso ao longo desses quase dois anos. É isso
que eu posso falar a princípio sobre essa chamada crise entre os
Poderes.
2 – PHA: Deputado, o ministro Gilmar Mendes, disse que
se sua PEC passar, seria melhor fechar o STF. O senhor prefere o STF
fechado?
Deputado Nazareno: É muita asneira da boca de um
ministro que tem doutorado em Direito Constitucional. Que é dono, em
Brasília, de instituto nessa área, de pós-graduação. Que tem livro,
publicado com outro (jurista) – que inclusive eu conheço. Aliás, ele é
citado, em um dos livros dele, na justificação da minha PEC; e, em
outro, que ele traduziu do alemão, e eu cito na justificativa. Eu não
sei nem se ele leu isso tudo, para dizer uma asneira dessas.
Nossa
PEC, Paulo, é muito clara. Aumenta o quórum de decisão de
inconstitucionalidade no Supremo, ou recorre a consulta popular. Não
existe nada que mexa em cláusula pétrea, que feche o Supremo.
Aliás,
me parece que ele se esquece do passado. Em 1993, a emenda número 3 é
que instituiu na Constituição de 88 a vinculação de decisões do Supremo
sobre constitucionalidade aos tribunais inferiores.
Depois, a emenda 45, de 2004, criou a súmula vinculante.
Ou seja se foi feito pelo Congresso e não houve crise, como que o mesmo assunto não pode ser aperfeiçoado pelo Congresso ?
Eu
acho muito estranha uma fala dessas. Eu considero uma fala
irresponsável vinda de um magistrado. Porque o magistrado só deveria se
pronunciar quando ele é questionado - assim são os costumes. Ele não
foi questionado sobre isso. Ele foi entrevistado, me parece, como se
fosse um candidato político em eleições.
Ele está falando de maneira muito própria do ambiente político e não do ambiente jurídico.
(Deveria
ser) mais recatado, como um jurista, um magistrado da Corte Suprema .
Isso, na minha compreensão e na compreensão do Código da Magistratura – e
tenho até lido ele todo para poder analisar o comportamento dele e de
outros com relação à mídia e ao Legislativo.
3 – PHA: Deputado,
em que pé esta nesse momento a tramitação da sua PEC ? O presidente da
Câmara se comprometeu a alguma coisa ou o senhor acha que isso ficará
congelado sine die?
Deputado Nazareno: Eu não tive nenhum contato com o presidente da Câmara ainda.
A
nota que o próprio presidente da Comissão de Constituição e Justiça
mostra que tudo foi decidido corretamente. Foi só a admissibilidade dela
que foi aprovada.
Mas, uma Comissão Especial, em que o
presidente (da Câmara) pede a cada partido que indique seus
representantes, tudo isso vai ser discutido em breve.
Eu não
vejo por que esse pavor, já que o conteúdo dela sequer foi debatido, já
que o lugar certo para (discutir) isso é a Comissão Especial. Para
depois ir para plenário, para ser votada duas vezes e com quórum
qualificado de três quartos, para, então, voltar para a Comissão de
Constituição e Justiça, e ser votado duas vezes, também com quórum
qualificado de três quintos, no plenário do Senado.
Não vejo
inclusive o que o presidente da Câmara pode fazer, porque ele tem que
cumprir o Regimento. Ele pode adiar, dizer que tem muitos pedidos de
Comissão Especial, pode demorar.
4 – PHA: Última pergunta.
Durante o noticiário que sucedeu a aprovação da sua PEC na CCJ, eu não
vi nenhum apoio político ao senhor da parte do governo, ou do seu
partido, o PT. O senhor é uma andorinha no verão?
Deputado
Nazareno: Olha na verdade, veja bem. A maneira agressiva como
manipularam politicamente a temática assustou, eu acredito, parte do
partido e as pessoas ligadas ao Governo. Veja, a grande mídia fez a
associação da PEC, por exemplo, com a Ação Penal 470 (do mensalão do
PT).
Meu Deus, minha PEC não trata de nada disso, de qualquer decisão de matéria penal, em absoluto.
Outra coisa foi o uso dessa decisão pelo Gilmar, como uma espécie de retaliação.
(O
deputado se refere ao projeto sobre o uso do fundo partidário para
novas legendas, que o ministro Gilmar Mendes considerou inconstitucional
por força de liminar – clique aqui para ver o Mauricio Dias disse sobre essa matéria, na Carta Capital.)
5 – PHA: O senhor acha que o ministro Gilmar retaliou, deputado?
Deputado
Nazareno: Se, de manhã aprovou-se nossa emenda, e de noite, com
celeridade, ele faz aquilo – que ele nem sequer precisava responder
aquilo liminarmente, podia botar aquilo para o plenário, para respeitar
assim o Poder Legislativo, e, não, usar dar essa resposta monocrática,
cautelar.
Eu considero isso uma imoralidade, uma humilhação.
Um juiz ter mais importância do que 100 milhões de votos representados no Congresso Nacional.
E que um ditadorzinho possa fazer um negócio desse de próprio punho.
Isso não é admissível.
O Congresso não deveria sequer dar atenção à decisão do ministro.
Deveria é dar ordem de prisão, porque ele esta atacando o Poder, e entrar com processo de impeachment.
Se
eu fosse presidente do Congresso, e qualquer um desses Gilmar Mendes se
metesse a besta, Toffoli, esses ai … eu mandava, usando a Constituição,
dava ordem de prisão.
Porque é um atentado ao Poder Legislativo.
Chamava as Forças Armadas para cumprir a decisão e entrava com o processo de impeachment.
Acabava com essa brincadeira de um Poder querer invadir o outro.
Infelizmente, as pessoas tem se acovardado, acostumados a ver as decisões do Legislativo serem tomas no Supremo.
Essa
jurisprudência, às vezes dentro da Casa, junta a cabeça de assessores e
consultores, porque foram doutrinados com essa visão, e acabam
esquecendo do artigo 49 inciso XI da Constituição, e do artigo 52,
inciso dez, em que o Senado é que diz se pode ou não cumprir uma
decisão de inconstitucionalidade do Supremo. Tá na Constituição.
6 – PHA: O Congresso ignora o artigo 49 da Constituição, deputado?
Deputado
Nazareno: Inciso XI. Que diz que é prerrogativa do Congresso, é
competência exclusiva do Congresso zelar pela sua competência
Legislativa diante dos outros Poderes.
Se os outros poderes estão mexendo na competência Legislativa, a última palavra quem dá é o Congresso.
Não cabe aos outros dois poderes dizer, sequer, se eles estão ou não mexendo: quem decide somos nós.
E
o artigo 52 , inciso 10 em que o Senado pode ou não sustar, e decidir
quando vale a decisão de inconstitucionalidade do Supremo.
7 – PHA: Mas parece que o Congresso tem medo do artigo 52?
Deputado
Nazareno: Eu concordo com você. Aliás, no pedido de impeachment que
houve contra o Gilmar Mendes, movido por um advogado um tempo atrás…
8 – PHA: O doutor Piovesan (Leia também ação do Dr Piovesan mais se parece com um B.O.)
Deputado
Nazareno: Por conta de uma reportagem da revista Piauí, que mostrava
que a mulher do Gilmar trabalhava no escritório do Sérgio Bermudês,
ganhava um dinheiro lá. E o pedido sequer passou por Comissão Especial
do Senado, posto em votação, ou seja, o Regimento do Senado foi
desobedecido pelo Presidente de então, que era o Sarney.
Agora vem esse caso do Fux, que é aberrante também. (Clique aqui para ler “Dr Bermudes emprega a filha de Fux e ia dar a festa dos 60 anos dele”; e aqui para
ver a entrevista de Dirceu: “Fux me procurou para dizer que, se
nomeado, ia me absolver”.) Infelizmente, a gente tenta incentivar os
pares a ter altivez, a respeitar o que o Constituinte obriga que a gente
faça. Nós não podemos deixar de fazer.
Estamos colocando a
nossa Democracia em risco, o que leva a uma possível ditadura de juízes,
sobretudo os da Suprema Corte. Onze pessoas comandando o país.
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