Luiz Fux: Justiça é coisa séria!
Por Mauro Santayana, em seu blog (7 de dezembro de 2012)
O jornalista mineiro José das Dores Vital acaba de publicar um ensaio delicioso, “Como se faz um bispo”, mostrando o jogo que se esconde na escolha de um novo prelado na hierarquia católica. As revelações do Ministro Luis Fux, publicadas no fim de semana pela Folha de S. Paulo, sobre os seus esforços a fim de se tornar Ministro do STF, sugerem umbest-seller, como o de Vital.
Seria muito interessante mostrar como se escolhem alguns dos mais elevados magistrados da República. Muitos deles, pelo que andam anunciando, pretendem ser os arcontes do Estado Nacional, e pairar sobre todos os seus poderes, assentados no monte de Ares (ou de Marte, em latim), dedicado ao deus da guerra.
Fux conta como pediu a Deus, e a todo mundo, que o indicassem para ocupar uma vaga no Supremo: de João Pedro Stédile, do MST, a Delfim Neto, incluindo José Dirceu e outros réus da Ação 470 que ele, Fux, julgaria. Segundo a Folha de S. Paulo, um seu emissário, em seu nome, solicitou ao jornal que ele fosse ouvido. E foi muito bem entrevistado, por uma das mais argutas e ferinas jornalistas brasileiras, Mônica Bérgamo.
Vamos deixar a um canto o julgamento da Ação 470. Trata-se de um fato
consumado. Ao julgar os réus daquele processo, o Supremo Tribunal
Federal passou a ser julgado – não pelos meios de comunicação, que o têm
aplaudido; não pelos setores da classe média do Sul e do Sudeste, que
se sentem ressarcidos moralmente, com a condenação de correligionários
de um apedeuta nordestino, operário metalúrgico, que conseguiu eleger-se
e governar o país. Para todos esses, o Supremo foi o Areópago dos
tempos míticos, com os juízes sob a presidência, invisível, mas
infalível, da deusa Atena. Mas há quem examine as a situação com outros
olhos.
O jornalista mineiro José das Dores Vital acaba de publicar um ensaio delicioso, “Como se faz um bispo”, mostrando o jogo que se esconde na escolha de um novo prelado na hierarquia católica. As revelações do Ministro Luis Fux, publicadas no fim de semana pela Folha de S. Paulo, sobre os seus esforços a fim de se tornar Ministro do STF, sugerem umbest-seller, como o de Vital.
Seria muito interessante mostrar como se escolhem alguns dos mais elevados magistrados da República. Muitos deles, pelo que andam anunciando, pretendem ser os arcontes do Estado Nacional, e pairar sobre todos os seus poderes, assentados no monte de Ares (ou de Marte, em latim), dedicado ao deus da guerra.
Fux conta como pediu a Deus, e a todo mundo, que o indicassem para ocupar uma vaga no Supremo: de João Pedro Stédile, do MST, a Delfim Neto, incluindo José Dirceu e outros réus da Ação 470 que ele, Fux, julgaria. Segundo a Folha de S. Paulo, um seu emissário, em seu nome, solicitou ao jornal que ele fosse ouvido. E foi muito bem entrevistado, por uma das mais argutas e ferinas jornalistas brasileiras, Mônica Bérgamo.
Diz o juiz que ficou “estarrecido” com as provas contra Dirceu e os
outros e, assim, votou pela condenação dos réus. Estarrecidos estamos
todos nós, com as suas revelações. Fosse ele um juiz de tempos mais
antigos, é provável que se declarasse suspeito e se eximisse de
participar do julgamento. Não por se sentir tentado a absolver, por
gratidão; mas, sim, por se sentir tentado a condenar exatamente por ter
sido ajudado. Há uma desconfiança universal e muito antiga de que
muitos, ao receber um favor, passam a odiar quem os ajuda. Não se trata
de uma regra, mas, sim, de exceções. Não para Ulysses Guimarães que
dizia: o dia do benefício é a véspera da ingratidão.
Há dois mecanismos mentais que explicam esse paradoxo. Um deles é a
soberba do favorecido, sobretudo nas indicações políticas. O outro é o
de compensação do sentimento de humilhação do imaturo ao pedir o favor
ao poderoso - tão mais forte a ponto de lhe conceder o pedido. No
primeiro caso, o ajudado passa a acreditar que não foi escolhido como um
favor, mas sim, pelo reconhecimento de seus méritos. “Ele só podia me
ter escolhido, porque, dentre todos os outros, só eu sou capaz”.
Assim também poderia pensar Fux, embora seu confessado pranto de
regozijo, junto ao Ministro da Justiça, não sugira essa espécie de
sentimento. Resta o outro - o do constrangimento pela súplica do apoio.
Se o juiz Fux condenou os réus com a convicção de julgador, ou não,
importa pouco, nesta fase do processo. O que qualquer cidadão pode
condenar é a forma pela qual ele e outros foram escolhidos. Que um
candidato a qualquer cargo peça apoio, é natural – mas deve preservar um
pouco de decoro em sua postulação. Lula, submetido a duras provas
pessoais nos últimos meses, ao aprovar o nome de Fux junto a Dilma, não
soube desconfiar de quem trazia indicações tão amplas, que provinham de
todas as direções ideológicas. Em Minas, a idéia é a de que aquele que
tem a recomendação de todos não tem recomendação alguma.
O passado de um candidato ao STF deve ser examinado ao microscópio. Os
juízes do Supremo Tribunal são a última instância na defesa das pessoas
contra o Estado e na defesa do Estado contra seus inimigos. Eles devem
ser personalidades de indiscutível probidade, mas, da mesma forma,
mostrar o saber necessário para atuar com toda a isenção possível. Os
juízes não são anjos vingadores, celebridades do showbusiness, nem
cúmplices dos criminosos. São, ou devem ser, cidadãos acima dos
interesses e das paixões, para assegurar a todas as pessoas justas o
direito à vida, na segurança da paz. É preciso encontrar critérios mais
rigorosos, transparentes e universais, para a indicação e aprovação,
pelo Senado, dos Ministros do STF.
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