Continuando as postagens sobre momentos importantes da história do
Brasil, com a utilização de documentos oficiais ou escritos de
observadores privilegiados, reproduzimos um documento do Ministério da
Fazenda de 1999, em que é sugerida a privatização dos grandes bancos
estatais brasileiros como Banco do Brasil, Caixa Econômica Federal,
Banco do Nordeste do Brasil, entre outros. O referido texto pode ser
encontrado no link http://www.fazenda.gov.br/portugues/fmi/fmimpe02.asp
As privatizações brasileiras durante o governo do presidente Fernando
Henrique Cardoso, que merecerão diversas postagens neste blog, formaram
um conjunto de atitudes que o ex-Ministro Delfim Netto comparou a se
vender as jóias da família e aumentar ainda mais a dívida.
Para quem quiser ter uma visão geral sobre o tema poderá apreciar o belíssimo livro de Aloysio Biondi, "O Brasil privatizado" - Edição Especial, que contém a íntegra dos livros "O Brasil privatizado - Um balanço do desmonte do Estado" (1999) e "O Brasil Privatizado II - O assalto das privatizações continua" (2000). Aliás, no começo da obra, Biondi é bastante contundente:
"Aproveite a política de privatizações do governo brasileiro. Confira nas páginas seguintes os grandes negócios que foram feitos com as privatizações - "negócios da China" para os "compradores", mas péssimos para o Brasil. Antes de vender as empresas telefônicas, o governo investiu 21 bilhões de reais no setor, em dois anos e meio. Vendeu tudo por uma "entrada" de 8,8 bilhões de reais ou menos - porque financiou metade da "entrada" para grupos brasileiros. Na venda do Banco do Estado do Rio de Janeiro (Banerj), o "comprador" pagou apenas 330 milhões de reais e o governo do Rio tomou, antes, um empréstimo dez vezes maior, de 3,3 bilhões de reais, para pagar direitos dos trabalhadores. Na privatização da rodovia dos Bandeirantes, em São Paulo, a empreiteira que ganhou o leilão está recebendo 220 milhões de reais de pedágio por ano desde que assinou o contrato - e até abril de 1999 não começara a construção da nova pista. A Companhia Siderúrgica Nacional (CSN) foi comprada por 1,05 bilhão de reais, dos quais 1,01 bilhão em "moedas podres" - vendidas aos "compradores" pelo próprio BNDES (Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social), financiadas em 12 anos. Assim é a privatização brasileira: o governo financia a compra no leilão, vende "moedas podres" a longo prazo e ainda financia os investimentos que os "compradores" precisam fazer - até a Light recebeu um empréstimo de 730 milhões de reais no ano passado. E, para aumentar os lucros dos futuros "compradores", o governo "engole" dívidas bilionárias, demite funcionários, investe maciçamente e até aumenta tarifas e preços antes da privatização."
Para quem quiser ter uma visão geral sobre o tema poderá apreciar o belíssimo livro de Aloysio Biondi, "O Brasil privatizado" - Edição Especial, que contém a íntegra dos livros "O Brasil privatizado - Um balanço do desmonte do Estado" (1999) e "O Brasil Privatizado II - O assalto das privatizações continua" (2000). Aliás, no começo da obra, Biondi é bastante contundente:
"Aproveite a política de privatizações do governo brasileiro. Confira nas páginas seguintes os grandes negócios que foram feitos com as privatizações - "negócios da China" para os "compradores", mas péssimos para o Brasil. Antes de vender as empresas telefônicas, o governo investiu 21 bilhões de reais no setor, em dois anos e meio. Vendeu tudo por uma "entrada" de 8,8 bilhões de reais ou menos - porque financiou metade da "entrada" para grupos brasileiros. Na venda do Banco do Estado do Rio de Janeiro (Banerj), o "comprador" pagou apenas 330 milhões de reais e o governo do Rio tomou, antes, um empréstimo dez vezes maior, de 3,3 bilhões de reais, para pagar direitos dos trabalhadores. Na privatização da rodovia dos Bandeirantes, em São Paulo, a empreiteira que ganhou o leilão está recebendo 220 milhões de reais de pedágio por ano desde que assinou o contrato - e até abril de 1999 não começara a construção da nova pista. A Companhia Siderúrgica Nacional (CSN) foi comprada por 1,05 bilhão de reais, dos quais 1,01 bilhão em "moedas podres" - vendidas aos "compradores" pelo próprio BNDES (Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social), financiadas em 12 anos. Assim é a privatização brasileira: o governo financia a compra no leilão, vende "moedas podres" a longo prazo e ainda financia os investimentos que os "compradores" precisam fazer - até a Light recebeu um empréstimo de 730 milhões de reais no ano passado. E, para aumentar os lucros dos futuros "compradores", o governo "engole" dívidas bilionárias, demite funcionários, investe maciçamente e até aumenta tarifas e preços antes da privatização."
Mas as poucas linhas do jornalista Aloysio Biondi são apenas para contextualizar o texto que reproduzimos abaixo. "Ajuste Fiscal - Memorando de Política Econômica"
é um texto oficial do Ministério da Fazenda do governo FHC, escrito em
1999. Ele é bem claro, não precisa de comentário adicional.
__________________________________________________________________________
Ajuste
Fiscal
08/03/1999
Memorando de Política Econômica
I.
Antecedentes
1. Os desenvolvimentos econômicos que
levaram à formulação do programa do governo brasileiro
apoiado pelo
FMI
Banco Mundial
BID
BIS e pela maioria dos países mais
industrializados
foram delineados no memorando de políticas econômicas
anexo à carta de 13 de novembro de 1998
em que se solicita um Acordo
Stand-By junto ao Fundo. O Governo brasileiro reafirma o seu compromisso
com as referidas políticas que foram modificadas na forma indicada
abaixo
de modo a adaptá-las ao novo regime cambial.
2. O Governo logrou
inicialmente
implementar com sucesso os elementos do pacote fiscal que constituiam o núcleo
do seu programa. Antes da aprovação do arranjo stand-by pela Diretoria
Executiva do FMI
em 2 de dezembro de 1998
o Governo havia promulgado ou
conduzido pelos trâmites legislativos a emenda constitucional relativa à
reforma da seguridade social
bem como uma medida visando aumentar a alíquota
da COFINS – uma contribuição vinculada calculada com base no giro das
empresas. No entanto
no início de dezembro
a proposta que visava
aumentar a contribuição dos servidores públicos em atividade ao sistema
da previdência social e estender a referida contribuição aos servidores
inativos não foi aprovada pela Câmara
enquanto os esforços do Governo
para aprovar o imposto sobre movimentações financeiras (CPMF) sofreram
atrasos. Durante o mês de dezembro
o Banco Central reduziu
progressivamente a taxa de juros (overnight) (que havia alcançado mais do
que 40% em meados de novembro de 1998) para 29 por cento ao final do ano.
3. Não obstante o pronto anúncio de que o
Governo continuaria a envidar esforços para aprovar a CPMF no prazo mais
rápido possível e
a curto prazo
submeteria novamente ao Congresso as
medidas fiscais inicialmente rejeitadas
e não obstante a divulgação
em dezembro
de um conjunto de medidas fiscais compensatórias adicionais
a confiança do mercado continuou a deteriorar em janeiro de 1999
refletindo também preocupações a respeito do compromisso de alguns
Estados importantes com o ajuste de suas finanças. Após fortes pressões
sobre as reservas de divisas externas
em 13 de janeiro de 1999 o Banco
Central ampliou a banda de flutuação cambial e aumentou a frequência de
suas intervenções nos mercados à vista e de futuros. No entanto
as
pressões não diminuiram e
em 15 de janeiro
o Banco Central deixou que
o real flutuasse livremente. A taxa média de câmbio alcançou R$ 1
52/US$
em janeiro e R$ 1
91/US$ em fevereiro
comparada a R$ 1
21/US$ antes da
mudança do regime.
4. Esses percalços não
impediram a aprovação do programa fiscal em janeiro. Mais
especificamente
as medidas referentes às contribuições dos servidores
públicos ativos e inativos foram apresentadas novamente e aprovadas
rapidamente pelo Congresso
assim como o aumento da contribuição social
sobre o lucro das empresas e o aumento do IOF proposto pelo Governo para
compensar a demora na aprovação do aumento da CPMF. A CPMF foi aprovada
em duas votações no Senado e foi remetida à Câmara
havendo a
expectativa de que ela seja votada em segundo turno até o final do mês
de março. Finalmente
o orçamento para 1999 foi aprovado em 25 de
janeiro de 1999.
II. Perspectivas Econômicas para 1999
5. Prevê-se agora que a
atividade econômica projetada em 1999 será menor do que a prevista há
poucos meses
com uma redução média da ordem de 3
5% a 4% do PIB para o
ano. Isso reflete uma queda no último semestre de 1998 mais pronunciada
do que a inicialmente projetada e uma provável redução adicional da
demanda interna no primeiro semestre de 1999
que será apenas
parcialmente compensada por uma recuperação de exportações líquidas.
O declínio econômico deverá atingir seu ponto mais baixo em meados do
ano
com recuperação gradual a partir da segunda metade de 1999 e que
ganhará maior ímpeto no ano 2000
na medida em se recupere a confiança
diminuam as restrições impostas ao financiamento externo e a taxa de
juros reais se reduza.
6. O novo regime de câmbio
flutuante exigirá uma nova âncora nominal para a política econômica. A
política monetária
combinada com o fortalecimento do ajuste fiscal e
uma política salarial firme no setor público
será fundamental para
impedir o retorno d espiral inflacionária e assegurar uma rápida
desaceleração da taxa de inflação
uma vez absorvido o impacto da
desvalorização do real sobre os preços dos bens comercializáveis
("tradeables"). O índice de preços ao consumidor poderá alcançar
mais de 10 por cento na primeira metade de 1999
mas a taxa de crescimento
do índice deverá então reduzir-se gradativamente
refletindo a firme
condução da política monetária e a ausência de pressões internas de
demanda. Ao final do ano
a taxa mensal de inflação projetada deverá
estar na faixa dos 0
5-0
7 por cento.
7. A desvalorização do
real gerou um significativo incremento da competitividade brasileira. Como
consequência
e também em razão de um maior diferencial cíclico entre
o Brasil e seus parceiros comerciais
estima-se que a balança comercial
tenha uma melhoria ainda mais acentuada
passando de um déficit de US$
6
4 bilhões para um superávit próximo a US$ 11 bilhões em 1999. O déficit
em conta corrente deverá também reduzir-se sensivelmente
caindo de 4
5
por cento do PIB para algo em torno de 3 por cento do PIB
aproximadamente
equivalente às entradas esperadas de investimentos diretos estrangeiros.
Apesar da melhoria em conta corrente
o balanço de pagamentos global
deverá continuar a apresentar déficits nos próximos meses
em razão de
elevadas amortizações e do fato de que os fluxos de capitais para o
Brasil deverão ser recuperados apenas gradualmente. Com o fortalecimento
da confiança
um aumento dos influxos deverá levar as contas externas a
uma posição superavitária na a segunda metade do ano.
III. Política Fiscal
8. A desvalorização do
real gerou impactos sobre a dívida pública externa e a indexada ao câmbio
externo e resultou num aumento de 11 por cento do PIB no valor da dívida
elevando-a para mais de 53 por cento do PIB. O Governo tenciona reduzir
paulatinamente a relação dívida pública/ PIB para algo em torno de 50
por cento ao final de 1999 e para um nível menor do que o inicialmente
projetado para o final de 2001 no programa de novembro de 1998 (46
5 por
cento). Esse resultado seria obtido por meio de superávits primários do
setor público consolidado nos próximos três anos maiores do que os
originalmente fixados como meta. Outro fato que contribuirá para esse
resultado será a queda da taxa de juros reais decorrente do
fortalecimento do ajuste fiscal e da mudança para o regime de câmbio
flutuante. Projeções da evolução da relação dívida/PIB – baseadas
em hipóteses plausíveis de crescimento do PIB
taxas de juros reais e
taxa real de câmbio – indicam que superávits primários de 3 por cento
ao ano no período 1999-2001 seriam suficientes para atingir aquele
objetivo. Contudo
prevendo a possibilidade de um cenário menos favorável
do que o projetado
o Governo pretende criar uma margem de segurança
aumentando o superávit primário para
no mínimo
3
1 por cento do PIB
em 1999
3
25 por cento em 2000 e 3
35 por cento do PIB em 2001. Essas
metas serão revistas para cima (pelo equivalente a até 0
15 por cento ao
ano) para refletir as receitas adicionais (líquidas de transferências
constitucionais) que seriam obtidas pelo governo federal na eventualidade
de decisões favoráveis por parte do Supremo Tribunal Federal em casos
pendentes que tratam da eliminação de certas isenções da Cofins e do
imposto de renda sobre ganhos de capital.
9. A grande contribuição
para alcançar a meta de ajuste fiscal virá do Governo federal. Nesse
sentido
o superávit primário deverá aumentar de 0
6 por cento do PIB
em 1998 a pelo menos 2
3 cento do PIB em 1999 (em comparação com a meta
original de 1
8 por cento do PIB). Para atingir esse objetivo
o Governo
manterá as despesas nominais com bens e serviços abaixo do resultado
para 1998. Ao estabelecer prioridades orçamentárias
o Governo pretende
resguardar ao máximo os programas dirigidos às faixas mais pobres da
população e tem buscado apoio financeiro junto ao Banco Mundial e ao BID
para programas específicos que formam a assim chamada rede social de
segurança.
10. Com o objetivo de
melhorar o saldo primário
as seguintes medidas adicionais às já
aprovadas ou anunciadas ao final de 1988 foram ou serão anunciadas
proximamente: (i) aumento nos preços internos de energia e das outras
tarifas públicas
por uma margem suficiente para assegurar o repasse dos
custos dos "inputs" importados aos usuários finais; (ii)
suspensão
até o final do ano
dos créditos referentes aos impostos
vinculados ao giro de empresas exportadoras (PIS e COFINS); (iii) aumento
da alíquota do IOF sobre créditos ao consumidor; (iv) apresentação ao
Congresso de legislação que aumenta a contribuição dos militares à
seguridade social; (v) redução (equivalente a 0
15 por cento do PIB) dos
gastos orçamentários federais com o pagamento de salários e
rendimentos
a ser alcançada
inter alia
com a redução de novas
contratações
postergação de aumentos salariais automáticos e de
promoções. Dentre as novas medidas
somente o aumento da contribuição
previdenciária dos militares requer nova legislação. As outras medidas
podem ser implementadas por Decreto ou por Medida Provisória
sendo que
esta opção exige ratificação subsequente pelo Congresso.
11. A meta para as empresas
estatais federais é de um superávit de 0
6 por cento do PIB em 1999
que
será parcialmente neutralizado por um pequeno déficit consolidado
registrado pelas empresas estaduais e municipais (em torno de 0
2 por
cento do PIB). Para alcançar esse objetivo
os programas de investimento
das empresas federais sofreram cortes equivalentes a 0
9 por cento do PIB.
Pode-se esperar uma redução do superávit primário das empresas
federais ao longo do tempo em consequência da privatização de algumas
das empresas mais rentáveis.
12. Vários governos
estaduais (incluindo alguns dos maiores Estados) precisam de ajustes
fiscais adicionais. Conforme explicitado no Memorando de Políticas Econômicas
anterior
os acordos de reestruturação de dívida entre o Governo
federal e os estados determinam que estes gerem superávits primários
para poderem pagar o serviço das dívidas reestruturadas. O Governo se
compromete a continuar a fazer cumprir esses acordos nos seus termos
originais
utilizando-se os remédios previstos nos mesmos
como já teve
oportunidade de fazer em diversas ocasiões. As reformas administrativa e
da previdência social
recentemente aprovadas
proporcionam aos estados o
arcabouço legal para começar a reduzir seus gastos com pessoal
condição
indispensável para a geração de superávits primários em muitos
estados. Nesse contexto
o Governo está negociando com o Banco Mundial um
empréstimo de ajuste estrutural para financiar os custos de uma reformulação
dos quadros funcionais dos estados e assim facilitar o cumprimento das
exigências da reforma administrativa. Nossas projeções indicam que
permanece viável a meta contida no programa "stand-by" de um
superávit primário consolidado dos Estados e municípios de 0
4 por
cento do PIB em 1999.
13. Enquanto muitos municípios
brasileiros são saudáveis financeiramente (como demonstrado pelo fato
que o resultado primário dos governos municipais tem registrado superávits
nos últimos anos)
algumas das maiores municipalidades acumularam dívidas
contratuais e securitizadas significativas
sobretudo com o sistema bancário
doméstico e não vêm pagando o serviço de tais dívidas há vários
anos (portanto
com capitalização dos juros não pagos). Estima-se a dívida
total dos municípios no final de 1998 em R$ 24 bilhões (em torno de 2
5
por cento do PIB)
já incluída no cálculo da dívida pública. Com a
Medida Provisória de 26 de fevereiro de 1999
o governo federal propôs o
refinanciamento da dívida bancária contratual e securitizada dos municípios
com prazo de 30 anos e juros equivalentes a 9 por cento acima da inflação.
Os acordos de reestruturação de dívida serão baseados nos acordos
firmados com os Estados e terão os mesmos tipos de garantias para o serviço
da dívida reestruturada e aplicarão penalidades na forma de juros em
casos de não cumprimento das exigências da Lei Camata
referentes aos
limites impostos aos gastos com pessoal. O acesso dos municípios a novos
financiamentos continuará severamente restrito. Estima-se que os acordos
de reestruturação de dívida produzirão um impacto favorável no saldo
primário consolidado do setor público equivalente a cerca de 0
1 por
cento do PIB em 1999
considerando que os acordos obrigarão os municípios
participantes a gerarem superávits primários que lhes permitam manter em
dia o serviço da dívida reestruturada.
IV. Políticas Financeira e Monetária
14. O objetivo primordial
da política monetária é garantir índices baixos de inflação. O Banco
Central pretende adotar um sistema viável de metas inflacionárias
formais com a maior brevidade possível. Como primeiro passo nesse
processo
o Governo fará uma revisão do anteprojeto de lei
agora em
discussão no Congresso Nacional
que trata do Banco Central e outras
instituições financeiras
com vistas a fortalecer a independência
operacional do Banco Central no desempenho de sua missão anti-inflacionária.
A proposta revisada incluirá: procedimentos para a definição de uma
meta anual de inflação
bem como para a prestação de contas ao
Congresso a respeito dos progressos alcançados nessa tarefa; mandatos
fixos para o Presidente e diretores do Banco Central; e uma forma
apropriada de quarentena para os membros da Diretoria do Banco ao se
desligarem de suas funções. Além disso
o Banco Central pretende
beneficiar-se de experiências estrangeiras relevantes no estabelecimento
da infraestrutura técnica necessária ao sistema de definição de metas
formais para a inflação. Com esse propósito
solicitou a assistência
do Departamento de Assuntos Monetários e Cambiais do FMI para organizar
(em cooperação com os bancos centrais de países que utilizam sistemas
similares) um seminário em Brasília
no mês de abril
para discutir os
principais assuntos nessa área.
15. Como a passagem para um
modelo de metas formais para a inflação levará algum tempo
no período
de transição o Banco Central utilizará um sistema quantitativo com base
no qual definirá metas para seus créditos domésticos líquidos. A
trajetória proposta para os créditos domésticos líquidos
apresentada
no memorando técnico de entendimento anexo é fundamentada nas projeções
para a inflação
PIB real e reservas internacionais líquidas
mencionadas nos parágrafos 6 e 8 acima
presumindo um provável aumento
inicial na velocidade da moeda em consequência dos aumentos de preços
provocados pela desvalorização do câmbio
seguido por um gradual declínio
na medida em que as expectativas inflacionárias forem revertidas no
decorrer do ano. No atual clima de expectativas ainda indefinidas
projeções
de demanda de moeda serão inevitavelmente marcadas por um alto grau de
incerteza. Essas incertezas se tornam ainda mais complexas devido à
dificuldade de quantificar o impacto prospectivo de alterações nas alíquotas
do IOF e da CPMF na composição das carteiras financeiras de consumidores
e empresas. Será necessário
portanto
monitorar cuidadosamente a evolução
dos agregados monetários e estar prontos para alterar as metas do
programa no caso de desvios significativos da taxa de câmbio (um dos
indicadores principais das pressões inflacionárias) ou da taxa de inflação
das suas trajetórias previstas
pois tais acontecimentos poderiam
sinalizar que a demanda por moeda fora superestimada ou subestimada.
16. A atenção maior que
será dada pelo Banco Central à inflação e aos agregados monetários
requererá flexibilidade apropriada na administração das taxas de juros.
Como passo nessa direção
em 4 de março o Banco Central eliminou a
banda para as taxas de redesconto (TBC e TBAN)
vinculando a TBAN à taxa
do overnight. Ao mesmo tempo
elevou a sua taxa de referência para o
mercado overnight em 6 pontos percentuais
para 45 por cento. Além disso
com o intuito de reduzir a liquidez bancária
o Banco Central já havia
aumentado as reservas remuneradas sobre depósitos a prazo em 3 de março
de 1999
de 20 por cento para 30 por cento. Também se esforçará para
reduzir o seu estoque de "repos" junto aos bancos
ampliando
seus vencimentos
e começará a oferecer títulos de renda fixa de curto
prazo ao mercado. Ao longo do tempo
o Banco Central pretende reduzir o
estoque dos seus próprios títulos no mercado
utilizando papéis do
Tesouro para as suas operações no mercado interbancário. Para esse
objetivo
o Tesouro aumentará gradativamente suas emissões líquidas de
títulos nos próximos meses
com vistas à substituição parcial dos papéis
do Banco Central na medida dos seus vencimentos.
17. O sistema financeiro
tem resistido relativamente bem ao impacto da queda de atividade econômica
e da elevação das taxas de juros. Embora a parcela de créditos de
liquidação duvidosa na carteira de empréstimo dos bancos tenha subido
de 6 por cento em junho de 1997 para 9
2 por cento em novembro de 1998 (de
3 por cento para 5 por cento no caso dos bancos privados)
refletindo até
um certo ponto padrões de classificação mais rígidos
provisões
permaneceram acima de 120 por cento do volume dos créditos de liquidação
duvidosa até novembro de 1998 e informações preliminares indicam que a
rentabilidade dos bancos continuou a seguir uma curva fortemente
ascendente em 1998. Testes de "stress" sugerem que os principais
bancos privados continuariam a superar as relações de adequação de
capital exigidas
mesmo no caso da duplicação de sua relação de créditos
de liquidação duvidosa. O Banco Central monitorará cuidadosamente a
evolução das carteiras dos bancos privados e públicos nos próximos
meses e fará o necessário para garantir que as exigências de adequação
de capital sejam rigorosamente cumpridas. O Banco Central também
fortalecerá sua supervisão da exposição do sistema bancário em moeda
por intermédio da emissão a curto prazo de uma regulamentação mais
efetiva visando limitar o grau de exposição
baseada nos padrões de
Basiléia. Até o final de 1999
o Banco Central
com assistência técnica
do Banco Mundial
emitirá regulamentação a respeito dos riscos de
mercado dos bancos. A regulamentação será fundamentada no padrões da
Basiléia e implementará um sistema moderno de classificação de créditos.
18. Com determinação
o
governo dará continuidade à sua política de modernização e redução
do papel dos bancos públicos na economia. O Banco Meridional
uma
instituição federal
foi privatizado em 1998 e
em 1999
o sexto maior
banco brasileiro
o BANESPA
agora sob administração federal
será
privatizado. Ademais
o Governo solicitou à comissão de alto nível
encarregada do exame dos demais bancos federais (Banco do Brasil
Caixa
Econômica Federal
BNDES
BNB e BASA) a apresentação
até o final de
outubro de 1999
de recomendações sobre o papel futuro dessas instituições
tratando de questões como possíveis alienações de participações
nessas instituições
fusões
vendas de componentes estratégicos ou
transformação em agências de desenvolvimento ou bancos de segunda
linha. Essas recomendações serão analisadas e decisões serão tomadas
pelo Governo antes do final do ano
sendo que as determinações serão
implementadas no decorrer do ano 2000. O Governo já se decidiu sobre a
privatização da administradora de ativos afiliada ao Banco do Brasil
(BB/DTVM) e do Instituto de Resseguros do Brasil (IRB BRASIL-RE). Ao mesmo
tempo
continuará o processo de privatização
fechamento ou transformação
dos bancos estaduais restantes em agências de desenvolvimento. A
privatização dos bancos dos grandes estados
especialmente os da Bahia e
do Paraná
deverá ocorrer em 1999
dando seguimento às privatizações
bem sucedidas dos bancos estaduais do Rio de Janeiro
Minas Gerais e
Pernambuco
entre outros
nos últimos dois anos.
V. Setor Externo
19. Sob o novo regime de câmbio
flutuante
vendas de moeda estrangeira no mercado pelo Banco Central serão
efetuadas regularmente para atender as necessidades projetadas de
financiamento do balanço de pagamentos. Intervenções limitadas e não
esterilizadas poderão ocorrer ocasionalmente em resposta a condições de
desordem no mercado. O Banco Central deixará de intervir no mercado de
futuros de câmbio a partir de março 1999. A adoção de um regime de câmbio
flutuante facilitou a eliminação
a partir de 1º de fevereiro de 1999
dos dois mercados cambiais paralelos (comercial e de taxa livre). Tal
medida abre caminho para o Brasil aceitar no futuro próximo as obrigações
contidas no artigo VIII
seções 2
3
e 4
dos Artigos de Acordo do FMI.
Com a finalidade de identificar quaisquer obstáculos que possam ainda
impedir a finalização desse processo
solicitou-se a assistência dos
Departamentos Jurídico e de Assuntos Monetários e de Câmbio do Fundo.
20. O Governo pretende
buscar um compromisso voluntário junto aos bancos estrangeiros para que
mantenham e
com o passar do tempo
aumentem gradualmente sua exposição
no Brasil. Empresas brasileiras que captam recursos no exterior
continuaram a ter acesso ao mercado externo de capitais nos últimos meses
com emissões pequenas de notas e "commercial papers" e
esperamos que essa tendência se acelere nos próximos meses
com a
reconquista da confiança internacional. Estamos também planejando uma ou
mais emissões de bônus do governo mais adiante no ano
na medida em que
as condições do mercado melhorarem. É intenção do Governo
no
entanto
manter a dívida externa pública e a dívida garantida pelo
setor público dentro dos limites especificados no memorando técnico de
entendimento
bem como limitar a parcela de dívida de curto prazo no
total da dívida externa pública.
21. O Governo mantém seu
compromisso com a política de liberalização comercial adotada no
primeiro mandato do Presidente Fernando Henrique Cardoso (resumida no
Memorando de Políticas Econômicas de novembro de 1998). Com vistas a
proporcionar aos exportadores brasileiros condições iguais de competição
o Governo executa um programa limitado de financiamento de exportações e
equalização de taxas de juros
semelhante aos programas implementados
por outros membros da OCED e compatível com o consenso da União de Berna
e em conformidade com a regulamentação da OMC. A apropriação para
equalização de juros no orçamento de 1999 é equivalente a menos do que
0
1 por cento do PIB e a maior parte desse valor já está comprometida.
Dado o aumento de competitividade e levando em consideração as altas
taxas de juros internos e a contração do crédito
o Governo pretende
limitar o escopo do programa de equalização de juros às exportações
de produtos com ciclos de produção longos
tais como bens de capital.
Conforme indicado no parágrafo 10 acima
o Governo suspendeu a restituição
de pagamentos de PIS e COFINS aos exportadores.
VI. Políticas Estruturais
22. O memorando de políticas
econômicas anterior forneceu uma visão abrangente da agenda de reformas
estruturais do Governo no curto e médio prazos. Este memorando descreve o
progresso obtido nos últimos três meses no cumprimento dessa agenda
assim como algumas modificações planejadas na referida agenda.
23. Um marco importante foi
a aprovação final pelo Congresso da emenda constitucional da reforma da
Previdência Social em novembro de 1998. Tal reforma estabelece os princípios
gerais - aplicáveis aos sistemas públicos de previdência
tanto para os
funcionários do setor público quanto para os do setor privado - que
regem questões como o equilíbrio atuarial dos sistemas
o número mínimo
de participantes e às contas nocionais de contribuição individual. Para
os sistemas públicos
a reforma impõe um teto na relação de contribuições
empregador/empregado de 2:1 e exige que as contribuições dos empregados
aumentem sempre que o valor de despesas com pensões (líquido de
contribuições) em qualquer nível de governo exceder a 12 por cento da
receita líquida daquele Governo (em todos os níveis). O Congresso também
aprovou
em 28 de janeiro de 1999
leis que aumentam o limite da taxa de
contribuição dos servidores civis de 11 por cento para 20-25 por cento
dependendo do nível salarial
e introduziu um sistema de contribuições
escalonadas para os servidores civis aposentados que recebem mais do que
R$ 600 por mês. Nos próximos meses
o Governo apresentará ao Congresso
legislação mais detalhada com o objetivo de implementar os princípios
contidos na reforma constitucional da previdência para trabalhadores dos
setores público e privado
bem como uma nova legislação para
regulamentar os fundos de previdência privada.
24. A regulamentação da
Reforma Administrativa (emenda constitucional aprovada em 1998) está em
tramitação no Congresso. O projeto de lei que estabelece as modalidades
de aplicação da Lei Camata - que limita despesas com pessoal a uma
percentagem de receita líquida - foi aprovado pela Câmara dos Deputados
em janeiro e
no momento
está em discussão no Senado
juntamente com as
regras que governarão dispensas de funcionários públicos em caso de
excesso de pessoal. Uma lei que regulamenta a demissão por falta de
desempenho e outra que permite maior flexibilidade na contratação de
servidores públicos já foram encaminhadas ao Congresso.
25. Em dezembro de 1998
o
Governo apresentou uma proposta de reforma tributária ao Congresso com a
finalidade de reformular o sistema atual de tributação indireta que tem
se mostrado altamente complexo e ineficiente. A proposta engloba: (i) a
substituição da maior parte dos atuais impostos indiretos (incluindo um
tributo federal e outro estadual (IPI e ICMS)
que têm características
de tributos sobre valor adicionado (IVA) bem como algumas contribuições
sociais vinculadas ao giro das empresas (PIS e COFINS) ou cobradas sobre o
lucro das empresas (CSLL) com um novo IVA nacional
cujas alíquotas e
base de cálculo seriam determinadas pelo governo federal mas que seriam
administrados pelos estados
com as receitas sendo compartilhadas entre os
governos federal
estadual e municipal; (ii) a criação de impostos
seletivos a nível federal; e (iii) a utilização do imposto sobre transações
financeiras (CPMF) como um imposto mínimo
deduzível de outros tributos
federais (possivelmente o imposto de renda). Essa proposta visa eliminar
as atuais distorções do sistema tributário
simplificando
significativamente sua estrutura e limitando a margem de evasão e erosão
da base de tributação indireta. A reforma é concebida para ser ex-ante
neutra do ponto de vista de receita
mas sua implementação bem sucedida
deverá gerar dividendos fiscais com o decorrer do tempo
especialmente
pelo fato de facilitar a cobrança.
26. Uma minuta da Lei de
Responsabilidade Fiscal proposta que segue a orientação explicitada no
parágrafo 15 do Memorando de Políticas Econômicas anterior foi
anunciada pelo governo em dezembro de 1998. O objetivo do governo foi de
solicitar comentários dos governos estaduais e municipais
da própria
sociedade e de organizações internacionais. Uma minuta revisada
incorporando tais comentários será enviada ao Congresso brevemente.
27. O Governo pretende
acelerar e ampliar o escopo do programa de privatização - que já se
configura como um dos mais ambiciosos do mundo. Em 1999
o Governo
pretende completar a privatização das companhias federais geradoras de
energia e
no ano 2000
iniciará o processo de privatização das redes
de transmissão de energia. No âmbito dos Estados
espera-se que a
maioria das companhias estaduais de distribuição de energia seja
privatizada ainda em 1999. O Governo também anunciou que planeja vender
ainda em 1999 o restante de sua participação em empresas já
privatizadas (tais como a Light e a CVRD) bem como o restantes de suas ações
não-votantes na PETROBRAS. O arcabouço legal para a privatização ou
arrendamento dos sistemas de água e esgoto está sendo preparado. O
Governo também pretende acelerar a privatização de estradas com pedágios
e a venda de suas propriedades imobiliárias redundantes. Estima-se que a
receita total do programa de privatização para o ano de 1999 seja de R$
27
8 bilhões (quase 2
8 por cento do PIB) (do total
cerca R$ 24
2 bilhões
serão gerados no nível federal)
com mais R$ 22
5 bilhões no período
2000 - 2001.
28. Conforme explicado no
Memorando de Políticas Econômicas de novembro de 1998
em muitos
aspectos as estatísticas econômicas e financeiras brasileiras são muito
bem desenvolvidas. No entanto
há deficiências em certas áreas
particularmente na contabilidade das contas nacionais
e o Governo
pretende solucionar esse problema. Nesse sentido
já solicitou a assistência
do Departamento de Estatísticas do Fundo para a elaboração de um diagnóstico
das deficiências
juntamente com assessoria a respeito das melhorias
necessárias para o país aderir ao SDDS. Uma missão deverá ocorrer na
primeira metade deste ano.
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