sexta-feira, 5 de outubro de 2012

AP 470 - Julgamento midiático



O julgamento midiático do mensalão

Eduardo Gonçalves

O que salta aos olhos é que existe, no ar, uma "caça às bruxas", uma busca sem fim de "calar a boca" de quem ousa discordar, ou colocar algum questionamento sobre o julgamento do mensalão. Alías, esse tipo de patrulhamento é típico de quem tem dúvidas sobre a posição que defende...

Na mídia, essa tentativa de "uniformização" do pensamento tem um alvo preferido, o Ministro Lewandovsky. No início da leitura dos votos, quando ainda se discutia a situação do João Paulo Cunha, a primeira manifestação do revisor, contrária à do Torquemada-Relator, foi recebida pela comentarista da Globo News com um: "nós estamos, aqui, tentando 'digerir' o voto do revisor (...) agora, os ministros que desejarem absolver os réus já tem uma 'escada' (...)".

E tem mais: as manchetes dos primeiros dias de julgamento foram uma óbvia tentativa de influenciar os ministros. Quem ousaria ir contra o clamor popular, que equiparou os réus do mensalão aos dos mais retumbantes casos criminais, como os dos Nardoni, Elisa Samudio, etc.?

Ora, em casos de corrupção, em que as provas são escassas (neste, faltaram até as tradicionais escutas telefônicas, e câmeras escondidas!), e que elementos subjetivos respondem por uma boa parte do convencimento do juiz, uma pressão desse quilate pode ter sido decisiva, mesmo para juristas experimentados como os do STF, afinal, eles também são humanos. Uma prova? Declarações como a da ministra Rosa Weber, no seu voto, segundo a qual a "corrupção se move nas sombras" (ou coisa parecida). Não parece que ela está tentando convencer a si mesma?

De tudo isso, uma das coisas que me deixa mais indignado é que, em vista do clima de "massacre" e de "arrasa-PT" formado no país, eu me sinto constrangido, até mesmo, de cobrá-los (pois votei em muitos deles, no projeto deles) como deveriam ser cobrados, dentro da medida, e da proporção, em que podem (e devem) ser cobrados. Acabo isentando alguns deles mais do que devia, para não aumentar o coro do torquemadismo - um movimento em que 10% quer justiça e quer combater a corrupção, e 90% quer revanche!


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